A Dissimulação do Narcisista:

A Dissimulação do Narcisista: O hobby do narcisista é a mentira. Ele mente descaradamente para a vítima e para todo mundo. Como nada é mais importante do que as vontades dele, ele mente para fazer somente o que lhe agrada e evitar o que lhe desagrada. Mente também para se autopromover, para que todos fiquem com uma impressão marcante da pessoa inteligente, influente e poderosa que ele é. O narcisista não tem vergonha de nada nem de ninguém. Só existe uma pessoa cujos interesses devem ser atendidos prontamente - e essa pessoa é ele! Com o narcisista os fins justificam os meios, sempre. Ter uma pessoa com o transtorno de personalidade narcisista na vida de uma vítima é como viver com um camaleão, pois muda de cor de acordo com o ambiente. Quando na rua ou no trabalho, rodeado de outras pessoas as quais considera conveniente passar a impressão de bom homem, ele se torna “azul”: calmo, adulto e centrado. Como narcisista perfeito, ele é até afetuoso com a vítima e os seus filhos. Na frente de outras famílias, usa clichês da vida para emanar uma aura de harmonia doméstica. Ele sabe direitinho o que dizer para manipular todos a sua volta a acreditarem que se trata de uma pessoa normal como outra qualquer. Quando o narcisista é todo “azul”, a vítima e os filhos encenam o seu papel de filhos de um homem de família como ninguém. A vítima sabe direitinho o que lhe é exigido nestas horas. São nestes momentos preciosos de pura dissimulação narcisista, que a vítima aprende que viver de aparências tem as suas vantagens. Já no dia-a-dia em família e sem a presença de plateia, o narcisista é outro. Em casa com a vítima, seus pais e seus filhos, ele se torna “verde”: amargo de tanto tédio e insatisfação, a diferença gritante, já que não se identifica com nada relacionado à família. Quanto menos a vítima e demais membros da família interagirem com ele, ou interferirem com o que ele estiver fazendo, melhor. A presença da vítima só é requisitada se ele precisar de alguma coisa ou se precisar ter por perto alguém para criticar ou descontar a sua raiva. Diferente do que ele conscientemente deixa transparecer em frente aos outros, a vida em família na casa do narcisista não é nada harmoniosa e tampouco normal. Só a vítima sabe como a solidão é grande ao lado dele. Longe dos olhos do público, ele é frio, distante e inacessível. Tanto física como emocionalmente. O complexo de Pinóquio do narcisista até passaria despercebido, se não causasse tanto estrago na vida da vítima. O abuso psicológico sofrido se mantém principalmente devido às mentiras do narcisista. Ele mente dentro e fora de casa, para a vítima e para as outras pessoas, como se mentir fosse uma atitude totalmente aceitável em toda e qualquer ocasião. Durante todos esses anos de convivência, a vítima acompanhou a evolução da capacidade do narcisista de manipular a verdade como se fosse argila. Com o passar do tempo, a vítima observou, incrédula, mentirinhas usadas na convivência familiar se tornarem maiores e mais sofisticadas. No início do relacionamento, as mentiras contadas pelo narcisista revolviam ao redor de coisas bobas, porém, depois de um certo convívio, essas mentirinhas triplicaram de tamanho e, com elas, seu poder de destruição. O que antes poderia ser visto como uma tática esperta (e até divertida) do narcisista, aos poucos, transformara-se em um ato deplorável. Quando se sentia ameaçado pela presença alegre da vítima e de bem com a vida, o narcisista passou a fazer uso da falsidade para acobertar seus ataques que ele proferia contra a vítima. De tão dissimulado ele convence a vítima a acreditar que a atitude abusiva dele se justifica. Na prática, a tática do narcisista é simples e muito eficaz: ele ataca, a vítima reage e ele mente. Quando a vítima relembra algo que o narcisista disse, ele, com a cara mais lavada do mundo, exclama: "Eu nunca disse isso! Que tipo de homem você acha que eu sou?“ Perplexa e sem saber o que dizer, a vítima retrai-se e se sente insignificante. O narcisista é o campeão da hipocrisia, pois o que ele diz não corresponde aos fatos. Ele é totalmente incongruente com o que se refere a “valores". Embora esteja sempre criticando os outros quanto a falta de decoro, ele é o rei da arrogância. Condena o desrespeito, mas está sempre tratando a vítima como lixo. Afirma odiar a mentira e está sempre mentindo. Acima de tudo, mente para se proteger das coisas terríveis que diz para a vítima. A mentira representa o grande escudo do narcisista, no qual se refugia das responsabilidades de pessoa adulta. Essas mentiras também são usadas para fazer com que a vítima se sinta culpada por ele se sentir da maneira que se sente, ou por ser quem ele é. Se o narcisista não é realizado na vida pessoal, é porque a vítima, seus pais e seu filho são limitados. A vida dele seria muito mais emocionante se tivesse uma família diferente. Ele seria muito mais animado, se todos não fossem tão entediantes e sem disposição para lhe dar atenção da forma que ele merece. Se o narcisista está sempre indisposto ou se o relacionamento está monótono é por causa da vítima e da sua falta de criatividade e iniciativa. Enfim, se a vítima começa a reclamar do relacionamento com o narcisista, a culpa com certeza não é dele. O problema está na vítima, por ser tão exigente. Ele afirma para a vítima: "Nada satisfaz você. Você não dá valor para o homem que tem. Marido perfeito não existe, sabia? Você e os nossos filhos nunca passaram fome e sempre tiveram tudo o que queriam, mas tudo isso não é e nunca vai ser o suficiente para você”. A vida ao lado do narcisista é como uma experiência surreal em que a vítima está seguidamente questionando a própria sanidade mental e capacidade de julgamento. O que o narcisista diz é tão desconectado da verdade que a vítima se sente inadequada, como se habitasse uma realidade paralela. A vida da vítima foi corrompida por interpretações falsas de maneira tão intensa, que ela aprendeu a desvalorizar as próprias memórias, por serem tão incertas. Quando a vítima “desperta” dentro de um relacionamento narcisista, ela só confia em uma coisa: no talento artístico que ele tem de mascarar a verdade.