A Dissociação da Vítima de um Relacionamento Abusivo:

Tão simples e imediato quanto o poder de um sorriso, é o poder do amor. O amor é a energia contagiante que faz da vida um ciclo harmonioso, é a base da nossa autoestima. Quando alguém recebe amor, aprende a amar a si mesmo e as outras pessoas. Por meio do afeto, da empatia, da aceitação e do carinho é que se aprende a aceitar os próprios sentimentos e a viver em sintonia consigo mesmo. O amor representa o inimigo número 1 da baixa autoestima, pois quem é amada floresce como um girassol contente em dia de sol. Quando alguém está num relacionamento com um narcisista, a pessoa permanece constantemente sob a sombra da amargura do seu companheiro(a), por isso, torna-se difícil manter uma existência tranquila ao lado da personificação da insatisfação, já que nada apazigua um abusador. Para que o narcisista se sinta satisfeito, a vítima precisa realizar todos os desejos dele exatamente da maneira que ele quer. Para agradar o narcisista, somente algo incrivelmente único e especial, diretamente ligado à ele precisa acontecer. A vítima aprende a conviver com a atitude infantil e emocionalmente instável do seu companheiro narcisista. Ao longo do relacionamento, a vítima faz uso de mecanismos psicológicos para lidar com estímulos negativos. Entre os muitos recursos cognitivos que alguém possui, a distração é um dos mais eficientes. Quando se está apreensiva a respeito do resultado de um exame, assistir uma comédia romântica é o bastante para ajudar a parar de pensar no assunto. Concentrar-se em uma pintura na cadeira do dentista pode ajudar a desviar a atenção daquele instrumento pontudo que tanto causa arrepios. Uma vítima sabe que desviar a atenção do que é doloroso permite manter o seu nível de estresse sob controle. No caso de uma experiência como um narcisista, esse mecanismo teve uma aplicação diferenciada e substancialmente mais ampla. Para conviver sob o mesmo teto e sem ter uma crise emocional a cada dois dias, a vítima aprende a ignorar comportamentos perturbados do seu companheiro(a). Enquanto o narcisista, verde de tanta raiva, grita absurdos por algo insignificante que o desagradou, a vítima aprende a “se desligar" do momento e de si mesma. Aprende a se separar do próprio corpo, tornando-se só uma cabeça desconectada do aqui e agora, ou seja, dos efeitos que a dor emocional lhe provoca, conseguindo tolerar os ataques verbais e maldosos do narcisista. A dissociação é o antídoto contra o veneno narcisista. Contudo, a longo prazo, o hábito da dissociação revela-se prejudicial, causando danos sérios ao senso de identidade e amor-próprio. A dissociação deteriora não somente o relacionamento que se tem consigo mesma, mas também aqueles que se mantem com as outras pessoas. Com o tempo, a capacidade de sentir ou de se conectar com os outros e com os seus próprios sentimentos fica debilitada. Isto porque a pessoa fica em total dissonância com as próprias emoções, a sua atitude diante dos momentos dolorosos se torna "eficiente" e calculada, como se não fosse humana. Exibindo reações automáticas, acaba por perder também a conexão com as emoções das outras pessoas. Para desenvolver uma experiência de vida autêntica que reflita a sua identidade de maneira integra, preservando seus relacionamentos de forma saudável, é vital que a vítima restabeleça um relacionamento harmonioso com as suas próprias emoções.

6/3/20231 min read