A Indisponibilidade do Narcisista

A Indisponibilidade Emocional do Narcisista: Grande parte do sofrimento da vítima em relação ao comportamento do narcisista se deve à maneira com que ele (não) lida com os sentimentos. Tendo em vista que narcisistas mantêm um relacionamento superficial com suas próprias emoções, eles são incapazes de reconhecer e lidar com os sentimentos dos outros de forma consistente. A tendência do narcisista é de banalizar o que a vítima sente, pois desconhece os significados reais das suas emoções. Por interpretar sentimentos sem se aprofundar, torna-se impossível fazê-lo entender que o que a vítima está passando tem relevância. A falta de empatia é uma das principais características da indisponibilidade emocional. Para quem não está em sintonia consigo mesmo é praticamente impossível identificar e respeitar os sentimentos dos outros. Para um narcisista, a tristeza, o descontentamento e a depressão são nada mais do que substantivos. O idealismo perfeccionista do narcisista impede que ele se identifique com sentimentos, principalmente os adversos. Aceitar as próprias vulnerabilidades - características comuns a todos nós - não se encontra no programa dele. Ele rejeita ou ignora tudo que não corresponda à imagem de superioridade que tenta passar, incluindo seus próprios sentimentos. O resultado é uma desarmonia total entre o que sente, pensa e faz. Como interpretar essas divergências exige grande esforço mental, o narcisista está em constante batalha consigo mesmo. Enquanto ele se esforça para reprimir sentimentos contrários à imagem do seu "eu" idealizado, ele resiste, permanecendo à flor da pele e gerando desconforto. Perante tantos conflitos psicológicos e emocionais, a vítima e as suas necessidades se tornam ainda mais insignificantes para ele. Expressar descontentamento ao lado de um narcisista equivale a brincar com fogo. A vítima aprende a escamotear o seu sentimento por puro medo do efeito que provoca no narcisista. A inconsistência das reações dele são tão grandes, que se torna impossível da vítima prever se relatar a sua insatisfação produziria uma reação parcial ou desproporcionalmente negativa no narcisista. Tudo que não está centrado nele é considerado desnecessário, as emoções da vítima - assim como os interesses dela, tornam-se dispensáveis. A vítima chega em casa feliz da vida, pois a sua chefe decidiu colocar em prática a sua ideia para todos os colegas de trabalho. A vítima descreve, em detalhes, como a chefe acolheu e adorou a sua sugestão de mudança em determinado departamento. A expressão do narcisista permanece tão imóvel quanto à da Mona Lisa, sem transmitir repúdio ou aprovação, deixando a vítima confusa. A vítima se mantém ereta, todavia, concentrada e esperançosa de qualquer traço de reação positiva. O narcisista rapidamente vira a cabeça e olha para a vítima, dizendo: "Eu também já tive inúmeras ideias colocadas em prática pela minha chefia!" A incapacidade do narcisista de reconhecer as emoções da vítima se mantém intacta, comprometendo, assim, o senso de identidade da vítima. Estar ao lado da presença instável e inconsequente do narcisista, acarreta na falta de oportunidades para explorar absolutamente nada que não corresponda aos interesses do narcisista. As consequências nefastas para a autoestima da vítima são muitas. A tendência natural quando se analisa o comportamento narcisista é de se concentrar em exageros, por serem tão abundantes. Por serem tão gritantes, o antagonismo, o egoísmo e o egocentrismo se tornam as características mais marcantes do narcisista. Identificar um tipo de carência, ou seja, o que não se materializa em lugar do que é aparente na superfície exige uma visão holística mais aprofundada. A sutileza com que o narcisista renega as emoções da vítima é tão prejudicial quanto as demonstrações abertas de rejeição. Negligenciar os próprios sentimentos causa danos sérios ao senso de identidade e amor-próprio de uma vítima. A autorrejeição provoca raiva e amplifica ainda mais a culpa que ela carrega. A longo prazo, a vítima começa a projetar este descontentamento contra si mesma, sem ao menos saber o porquê. O narcisista é uma contradição ambulante. Para quem idealiza a perfeição, a ausência de sentimentos faz do narcisista um ser incompleto, oco. Obstinado com noções descabidas de preservação da autoimagem, ele passa a vida inteira obliterando a própria humanidade.