Os Mitos dos Narcisista. Quarto Mito: Ele é Comunicativo
Esta "qualidade" narcisista é um mito, tendo em vista que a palavra “comunicativo” denota um atributo de personalidade positiva. Personagens que colorem a mídia internacional, como artistas, profissionais e empresários de sucesso, usam da fala para comunicar seus carismas irresistíveis. Mas este não é o caso do narcisista. O narcisista não se comunica, mas impõe a presença através do som. O narcisista quando fala, lidera, domina e manipula, indiscriminadamente, qualquer processo ou tentativa de conversação entre duas ou demais pessoas (eis aqui o grande exemplo dos políticos). Se a vítima se perde do narcisista em um lugar cheio de pessoas, é fácil localizá-lo: basta seguir-lhe a voz. O narcisista usa a boca para ir a Roma e dar a volta ao mundo 24 vezes, ininterruptamente. A participação da vítima em conversas com o narcisista é quase zero. Diálogo, com ele, vira monólogo narcisista em um piscar de olhos. A vítima pode proferir basicamente quatro frases: "Alô", "Oi amor", "Tudo bem" e "Tchau, beijo". O restante é uma torrente de relatos pessoais, histórias do cotidiano, fofocas, lamentações, críticas à bola da vez e, se a vítima tiver sorte, uma vaga falsa inquisição ao seu estado: "Oi amor, tudo bem?". Sim, AMOR pois ele escolhe um apelido carinhoso para manter a vítima dentro do ciclo de abuso. Com o ouvido doendo de ouvir o pronome "eu” duzentas vezes, a vítima mente: "Tudo bem sim…” O narcisista usa a fala para praticamente tudo, seja para confirmar o óbvio ou fazer um comentário totalmente desnecessário. Essa obsessão com a fala tem duas razões de ser: primeiro, não suporta o silêncio porque este fala mais alto do que a voz dele. O silêncio é a voz da verdade para os narcisistas. A ausência de som dá lugar a pensamentos, e pensamentos, para um narcisista, são armas suicidas. A maioria das pessoas normais, quando em crises sérias de baixa autoestima, entram em depressão, mergulham em um poço de apatia e tristeza e retornam à superfície, semanas ou meses depois, recuperadas. Elas aprendem com a experiência e, se for recorrente, provavelmente consultam um amigo que, talvez, recomende um psicoterapeuta. Após passar por tudo isso, a pessoa acaba conhecendo um pouco mais sobre si e cresce emocional e psicologicamente. O narcisista lida com o problema crônico de baixa autoestima dele tagarelando. Quando não está falando, está fazendo alguma coisa. Está sempre se preparando para sair, arrumando ou inventando algo. Ele não para, nunca. Passar momentos de introspecção e reflexão olhando para o nada é, de acordo com a definição dele, "coisa de gente que não tem o que fazer". O narcisista é melhor do que isso, nunca entrou nem entrará em depressão porque é um modelo da perfeição humana. Depressão, para ele, é coisa de pessoa fraca. Para que entrar em depressão, quando pode descontar a frustação nos outros? Nessas horas, todo mundo serve: vizinho, empregada, amigo, garçom, não importa. Mas ninguém, ninguém lhe dá tamanha satisfação de atormentar quanto a vítima, seu tônico narcisista predileto. Blá-blá-blá e tome mais uma crítica. Para pessoas patologicamente inseguras, a fala se torna a maneira mais fácil de chamar a atenção. Quanto mais velho o narcisista se torna, mais latim desperdiça e sem a beleza da juventude para atrair olhares, conversa para compensar o efeito do tempo. Vendedor de loja, caixa de banco, porteiro de garagem, pessoas paradas na sinaleira ou quem estiver disponível tornam-se alvo narcisista. É por intermédio da conversa que o narcisista se fortifica, o veículo pelo qual se torna o centro das atenções na vida dos outros nem que por cinco segundos. Este comportamento se assemelha à droga para o viciado, de alívio imediato, mas temporário. Como a lei da fisica impede que dois corpos ocupem o mesmo lugar ao mesmo tempo, quando o ar é preenchido por palavras, elas são da boca do narcisista. À vítima, raramente é concedido o privilégio de se expressar verbalmente. Em discussões com o narcisista, ideias morrem com a mesma velocidade que entram na consciência de uma vítima. Qualquer tentativa de ser ouvida naufraga, já que ouvir uma vítima deixa o narcisista inquieto e entediado. Se a vítima precisa desabafar, o narcisista corta a história dela ao meio, usando a introdução como pretexto para um relato a respeito dele. Em outro momento, o narcisista usa as palavras da vítima contra ela para desmoralizá-la, visto que, na boca do narcisista, as palavras sempre se transformam em uma arma perigosa.
5/1/20231 min read