Os onze fundamentos da baixa autoestima.

Em primeiro lugar, vou tratar aqui sobre como a atitude de uma vítima afeta o seu amor-próprio de maneira negativa. - A vítima tem um senso de identidade frágil: grande parte da sua referência de autoimagem é produto da influência narcisista. A vítima se vê através dos olhos do seu(sua) companheiro(a), renegando a sua própria essência. A vítima molda a sua percepção e altera o seu comportamento de acordo com a ocasião, como um camaleão. A individualidade da vítima foi ignorada e quem ela é e os seus ideais estão em permanente desalinho. - As tentativas de realização da vítima, sejam pessoais ou profissionais, são frustradas. Sem uma noção concreta dos próprios interesses, motivações e talentos, uma vítima se vê presa em uma busca infinita de si mesma. - A vítima sofre com o perfeccionismo: ela acredita que tudo o que faz deve seguir um padrão altíssimo de qualidade. Quando não atinge este patamar, vê-se inundada por sentimentos de autorrejeição. A vítima questiona seus esforços se não resultam em sucesso absoluto. As suas avalições pessoais são guiadas por um sistema extremamente rigoroso e simplista, que não dá lugar a tons de cinza: ou ela é perfeita, ou não tem valor algum. As exigências exageradas da vítima fazem das atividades mais simplórias grandes feitos de consequências imprevisíveis. É como se estivesse a serviço de algo muito maior do que ela, algo que é objetivamente impossível de satisfazer em toda e qualquer tentativa. Quanto mais obstáculos uma vítima coloca na frente da sua felicidade, mais incompetente se sente. - A vítima duvida das suas competências: sempre questionando os seus próprios méritos, uma vítima mantém uma distância clínica de seus objetivos, como se pertencessem a outra pessoa. Para a vítima, visualizar um futuro de realizações, de forma independente, é uma atividade surreal. Quando o sucesso bate à porta de uma vítima, ela se surpreende e, sem muita hesitação, rejeita-o, desconfiada e temerosa. Sucumbindo a mais um paradoxo, a vítima busca consolo no dissabor, reiterando o que lhe é familiar. - A vítima se autossabota psicologicamente: a convicção de uma vítima é de que ela não é boa o suficiente. Baseada neste princípio, cria uma barreira emocional ao seu amor-próprio. Por não se considerar merecedora de amor e respeito, a vítima é incapaz de se sentir valorizada, costuma mascarar o que sente, reagindo de maneira artificial a demonstrações de admiração e carinho. Sempre receosa diante da possibilidade de uma nova decepção, a vítima contém seus verdadeiros sentimentos. Sem conseguir estabelecer uma conexão saudável entre quem é e o que pensa, projeta uma imagem de imparcialidade e inacessibilidade emocionais. Esta fachada de autoconfiança faz com que a vítima mantenha um relacionamento superficial com o que faz e com as outras pessoas, completando o círculo vicioso de autoboicote. - A vítima não sabe lidar com críticas: desde a infância, a vítima carrega uma ferida aberta na sua autoestima. Por ter sido constantemente admoestada com palavras repreensivas, desenvolveu uma aversão natural a pareceres negativos. Comentários desfavoráveis produzem-lhe um efeito duradouro, fazendo com que experimente uma forte inquietude emocional. Essa hipersensibilidade intensifica a sua atitude defensiva e a sua reação a críticas se dá de forma extrema; quando não é exagerada, é indiferente, ou uma combinação de ambas. Se contrariada, é dominada por um grande desconforto emocional e para se proteger contra a insegurança, ignora seus sentimentos e refuta o crédito da mensagem recebida. Essa hipersensibilidade à crítica faz com que a vítima limite o seu crescimento e desenvolvimento pessoal. - A vítima tem medo de cometer erros: para uma vítima de um narcisista, cometer erros significa uma verdadeira tortura. Sua fobia à crítica faz de cada ato mal calculado uma fonte de grande ansiedade. Seu comportamento está em constante processo de reavaliação, sempre analisando a sua atitude de maneira precisa e minuciosa, remoendo discordâncias e reavaliando a sua performance. Paralelamente, a vítima evita experiências novas desmotivada pela perspectiva de derrota. Qualquer atividade que a projete para fora da sua zona de conforto acentua a sua insegurança, causando estresse. Mesmo quando capaz de reconhecer o valor da autossuperação, vê-se paralisada por sentimentos de impotência e hesitação. Sem coragem de encarar os desafios, mas ciente de seus benefícios, sente-se diminuída e desapontada consigo mesma e a procrastinação se torna sua aliada. - A vítima tem uma versão distorcida de si mesma: a deficiência de autojulgamento da vítima também interfere com a sua autoconfiança. O narcisista boicotou a capacidade de autoavalição, insistindo que tudo fosse feito de acordo com a vontade dele(a). No papel de outro, a vitima se afirmou como ser subalterno e secundário. Por ter tido seu senso de direito corrompido pelos interesses egoístas do narcisista, a vítima vê a sua autoestima como uma entidade abstrata e sem muito valor real. Guiada por um processo de constante desvalorização, a vítima se torna dependente de validação externa para se sentir inteira. - A vítima tem dificuldades de compreender como se sente: a vitima constantemente fica se esquivando dos ataques gratuitos do narcisista e, para se resguardar da ira narcisista, transformou-se em um barômetro emocional. Na eterna tentativa de acalmá-lo e mantê-lo satisfeito, a atenção da vítima se voltou para fora de si mesma e, por consequência, se desligou de seus próprios sentimentos. Por se acreditar responsável como os outros se sentem, a vítima tem dificuldade de se posicionar em face de suas próprias necessidades. Com o tempo, as suas ações se tornaram automáticas e inautênticas, sem saber quem é e, se sentindo isolada e desconfortável, a vítima leva uma vida dominada pela insatisfação. - A vítima é motivada pela culpa: seus atos são dominados por sentimentos de responsabilidade e obrigação. A sua concepção é de que seus deveres de companheira precedem o seu amor-próprio. Independente do efeito destruidor que o narcisista tenha na sua autoestima, a vítima se submete ao desrespeito e as exigências irracionais dele a fim de evitar sentir-se culpada. Por acreditar que deva corresponder às expectativas dele, tão como a normas culturais, autoanula-se diante de suas próprias necessidades. Desconectada da sua essência, baseia-se em interesses alheios como fonte de direção pessoal, tornando-se dependente da aprovação alheia para manter a culpa sob controle. Uma vítima opera como uma marionete social, satisfazendo a tudo e a todos, exceto a si mesma. - A vítima não sabe dizer não: a rejeição é a sua arqui-inimiga. A vítima tem grande receio de magoar os outros, pois não sabe responder de forma imparcial a sentimentos de oposição. Condicionada pelo antagonismo narcisista, está constantemente concordando com as outras pessoas com o intuito de evitar conflitos. Aliada à falta de autoconfiança, a sua atitude é direcionada ao bem-estar alheio. A vítima negligência as suas preferências pessoais por tratar as próprias necessidades como objetos dispensáveis e substituíveis. Impossibilitada de se autoafirmar de forma genuína, a vítima se refugia na condescendência, negando, como lhe é habitual, a sua própria vontade. Para que seja possível desenvolver uma autoestima saudável, a vítima precisa se desvencilhar da sua herança narcisista.

5/26/20231 min read