Refazendo-se!
A história de muitas pessoas é repleta de drama, abarrotada de subidas e descidas, de ruas esburacadas e becos sem saída, é uma jornada de vida longa e tortuosa. Entre trancos e barrancos, alguns eventos são marcantes na memória por serem carregados de emoções fortes e acabam por influenciar na maneira de alguém agir e pensar. Entre as milhares de memórias que constituem a experiência humana, muitas ilustram o abuso psicológico/emocional que uma pessoa sofreu nas mãos de um narcisista. Essas memórias, ou pequenas peças que compõe o grande quebra-cabeças que é a vida, foram manipuladas pelas interpretações tendenciosas do narcisista. O conhecimento baseado em inteligência narcisista é inerentemente questionável. Não há fato que sobreviva as intenções egoístas de uma pessoa narcísica - que distorce tudo o que não serve para reforçar o papel de vítima injustiçada. Consequentemente, a vítima vira vilã da sua própria história e a sua autoimagem, acaba sendo prejudicada. Isso não quer dizer que as memórias não tenham validade. Uma pessoa não precisa se esquecer de tudo o que passou e recomeçar do zero para dar início a uma vida autêntica. Uma das inúmeras vantagens da idade adulta é a capacidade de reavaliar o que se viveu de maneira madura e objetiva - e isso inclui a percepção da visão de mundo manipulada pelos objetivos narcisistas a qual a vítima foi submetida. Uma pessoa que sofreu constante manipulação pode e deve reescrever a sua própria história para que corresponda a uma autoestima saudável. Quem tem amor-próprio cuida e protege a sua autoimagem, não somente do lado físico, como também do psicológico. Aprender o auto-amor também depende da capacidade de refletir sobre a própria história de vida com complacência e respeito. Para começar a refazer a própria história, é fundamental recordar os episódios da vida de uma pessoa que influíram na maneira como ela se vê hoje em dia. Se alguém não tem confiança em si por acreditar que não é boa o suficiente, por exemplo, essa pessoa precisa lembrar de uma ou mais experiências do seu passado que contribuíram para que sustentasse esta ideia. Tentar se transportar de corpo e alma para o passado e reviver uma experiência dolorosa ao qual a pessoa experienciou, usando da imaginação para reencenar essas memórias é uma ferramenta psicológica poderosa. Esse é um exercício que ajuda a restaurar a autoconfiança. Uma pessoa vítima de abuso psicológico não precisa que o abusador reconheça o quanto a magoou para rever o seu amor-próprio. Ela não precisa fazê-lo entender que atos e palavras dele fizeram com que ela odiasse a si mesma. Para reconquistar a autonomia, basta reviver o trauma encenando-o tanto na mente quanto na alma. Nada em uma vítima é dependente do narcisista, visto que a influência dele acabou! Uma pessoa é livre para revisitar o seu passado e reivindicar as suas memórias sempre que quiser encerrar um ciclo e seguir adiante. A imaginação pode ajudar a reconstituir a autoimagem de alguém, basta confiar no poder da psiquê para refazer a própria história.
7/20/20231 min read