Relacionamentos Amorosos Patológicos - RAP
O amor patológico, também conhecido como amor maníaco ou obsessivo, é caracterizado por sentimentos intensos e muitas vezes irracionais de apego, possessividade e ciúme em relação a um parceiro romântico. Esses relacionamentos causam vínculos traumáticos, alternando entre momentos bons e ruins. O abuso (momento ruim) se transforma em recompensa (momento bom), criando um vício químico. A pessoa se apega a padrões aprendidos por repetição e velocidade. Quando nos relacionamos com alguém com transtorno de personalidade, percebemos que o “love bombing”, que proporciona momentos tão bons, desencadeia um vício ao qual a pessoa fica na expectativa, esperando que sempre aconteça. Isso ocorre porque o “love bombing” está associado a ideias de satisfação, plenitude e felicidade. O amor patológico é um transtorno de dependência emocional intensa. Assim como na dependência de álcool e drogas, o viciado torna-se dependente do parceiro. Essa dependência emocional causa muitos prejuízos. É uma dependência comportamental tão destrutiva que a pessoa sofre intensamente, sabendo que a situação é insustentável. Muitas vezes, a pessoa guarda o segredo por vergonha ou culpa, e não consegue romper o relacionamento, se afastar, nem controlar suas emoções e comportamentos. O amor patológico pode ter resultados devastadores, tanto emocionalmente quanto socialmente. Pode colocar a pessoa em um estado extremamente vulnerável, no qual cabe, além de intenso sofrimento, agressões físicas e até crimes passionais, tamanho o seu estado de descontrole. O que normalmente difere o amor normal do patológico são os prejuízos físicos, emocionais e sociais que costumam se manifestar na pessoa que sofre de algum transtorno. No caso do amor patológico, as principais características são: - Abstinência emocional na ausência do parceiro: insônia, alterações de apetite, irritação e tensão quando o parceiro está distante. - Ocupação excessiva com o parceiro: negligência de atividades diárias e trabalho, medo constante de rejeição ou perda do companheiro. - Incapacidade de controlar o impulso de cuidar do parceiro: dedicação total ao companheiro, sensação de que seus cuidados nunca são suficientes, impulso irresistível de agradá-lo, mesmo em um relacionamento insatisfatório ou abusivo. - Controle excessivo das atividades do parceiro: desconfiança e ciúmes excessivos, comportamentos de vigilância e até agressão física. - Abandono de atividades valorizadas: foco total na pessoa amada, deixando de participar de atividades prazerosas. - Persistência apesar de problemas sociais e familiares: crítica prejudicada, foco apenas nas emoções, afastamento da família e amigos. O contato zero é crucial para acalmar a mente pois através dele removemos os estímulos de repetição e velocidade (química). A maioria das pessoas costuma procurar tratamento apenas quando ocorre o fim do relacionamento, sofrendo intensamente pela dificuldade de não conseguir aceitar e tolerar a intensa angústia, uma espécie de sensação de desespero ocasionada pelo rompimento. Por falta de informação, assim como ocorre nos quadros de dependência química ou comportamental, é comum que haja dificuldade de conscientização com relação à própria patologia. A pessoa tem problemas para admitir que sofre de um transtorno e que necessita de apoio profissional. E, mesmo quando buscam ajuda, inicialmente o foco do pensamento está voltado para: “o que eu posso fazer para ter meu companheiro novamente?”, e não para “o que eu posso fazer para não ser dependente desta forma de alguém?”. A associação de psicoterapia com grupos de ajuda mútua como o “Mulheres que Amam Demais Anônimas” (Mada), costuma ser muito eficaz. O grupo propicia proteção e acolhimento, até que a adequada assistência médica e psicoterápica restabeleça a proteção interna, fazendo com que a pessoa compreenda a natureza de seus comportamentos e funcionamentos, assim como resgate e reconstrua sua autoestima. Além do acompanhamento psicológico, a avaliação psiquiátrica pode ser necessária para o estabelecimento do diagnóstico e do tratamento psicofarmacológico, se for o caso, de potenciais comorbidades psiquiátricas como depressão e ansiedade. Embora estatisticamente o quadro de dependência emocional esteja associado a mais mulheres do que homens, imagina-se que ocorra na mesma proporção e que os números estejam associados à dificuldade de os homens buscarem por ajuda. Estima-se que homens que sofrem de amor e ciúmes patológico estejam mais propensos a praticar violência doméstica com suas parceiras, em atos de agressões físicas, verbais e psicológicas. No próximo post irei falar sobre o ciúme patológico (associado ao quadro de amor patológico), caracterizado pelo excesso desse sentimento, o que provoca angústia e prejuízos significativos, tanto para o ciumento, quanto para o parceiro.
9/14/20241 min read