Valorize seus Sentimentos!
Por mais que o conceito de sentir inspire conotações de significado poético, as nossas emoções são, primeiramente, manifestações fisiológicas. Tente remover o efeito que os nossos sentimentos provocam na nossa matéria e o que resta é uma carcaça sem função específica. Apesar de cientes deste fato tão óbvio, nós seguidamente abdicamos de conectar a nossa experiência ao nosso sistema emocional, ignorando o efeito que este produz na nossa carne. Para quem perdeu o vínculo com as suas emoções mais genuínas, como tende a ser o caso de pessoas que convivem ou conviveram com narcisistas, é vital retornar a atenção para o corpo para reconectarem-se consigo mesmas. A filosofia do francês René Descartes (1596-1650) introduziu uma das noções mais marcantes do que consiste ser humano no mundo ocidental. A teoria de "Penso, logo existo" contribuiu para a superestimação da racionalidade sobre a emoção. Até hoje, a ideia de que o intelecto é superior ao "coração" influencia a maneira como julgamos o comportamento. Nós evitamos relatar experiências em conexão com as nossas emoções para não sermos avaliados de forma negativa. Aqueles em contato com as suas próprias emoções, como é o caso das pessoas de temperamento sensíveis, são comumente associados a exemplos de caráter fraco. As qualidades de uma personalidade forte, repleta de vigor e autoconfiança, tendem a ser atribuídas àqueles que exibem um aparente domínio do seu lado "animal". Colocar o coração na frente da razão é visto como um ato inconsequente. Nós renunciamos nossos próprios sentimentos para projetarmos uma imagem de pessoa racional e controlada. O foco nestes dois polos opostos - o racional (centrado na cabeça, calculado) e o emocional (distribuído ao longo do corpo, instintivo) - faz com que ignoremos grande parte da riqueza da nossa experiência. A complexidade da nossa humanidade inclui muito mais nuanças do que se permite ser simbolizado por esta dicotomia. A razão e a emoção não se excluem, mas se complementam. A emoção não precisa ser, necessariamente, inimiga da razão, mas sim, sua parceira. Quantas vezes uma decisão impulsiva e baseada em emoções intensas lhe proporcionou felicidade duradoura? Inúmeras são as vezes em que nos surpreendemos com o poder realizador das emoções. Em períodos dominados pelo excesso de racionalidade, em que a ruminação parece bloquear a nossa motivação, emoções como a raiva e a inquietação tem o poder de nos libertar da nossa própria inércia. Está na hora de apreciar a sabedoria contida nos nossos sentimentos. Para que a uma nova autonomia reflita em alguém - soberana e inteira, é importante restabelecer um contato livre e saudável com o nosso corpo. Dê crédito ao seu corpo e ao que ele esteja tentando lhe comunicar. Você não é somente o que pensa, mas também, o que sente.
7/31/20231 min read